segunda-feira, 4 de junho de 2012


A METÁFORA DA PIPA
Quem já empinou pipa sabe que o segredo para o sucesso da brincadeira está em aproveitar a força e a direção do vento para fazê-la subir e, depois, quando já empinada, saber tencionar a linha, pois, quando muito esticada, rompe-se, fazendo com que a pipa se perca pelos ares, ou, ao contrário, quando muito frouxa, leva a pipa a rodopiar nas alturas e cair.

Temos o conhecimento de que o jovem adolescente, objetivando a autonomia adulta, vez por outra não apresenta as ferramentas que lhe permitam um posicionamento autônomo. Afinal, a adolescência é um tempo de construção de autonomia, e não uma época de comportamento autônomo.

Por esse motivo, recorro à representação da pipa. Ao "dar linha", lançamos nossos adolescentes para as escolhas que já são capazes de fazer. Não podemos cerceá-los, pois corremos o risco de formar adultos irresponsáveis.

Todavia, não podemos confundir autonomia com irresponsabilidade. Os novos jovens precisam ser responsabilizados pelas suas ações, pois, se ser autônomo é "ser dono do próprio nariz", também significa saber cuidar dele, ser responsável por ele. O saber cuidar só se consolida quando ocorre um exercício de responsabilidade pelas escolhas realizadas e pelas consequências que delas possam advir.

Por outro lado, os pais não podem se esquecer de que, se tensão demais arrebenta a linha da pipa, tensão de menos faz com que ela perca a estabilidade e o sentido.

Deixar o adolescente solto, sem limite ou orientação, é uma omissão do papel educativo que deve ser exercido pelos pais. Há momentos em que, pressionados pela mídia e pelos pares, os adolescentes sentem-se oprimidos e incapazes de reações de enfrentamento a determinadas pressões. É hora de puxar e enrolar a linha para reconduzir a uma postura de equilíbrio.

Pais e mães comprometidos com a educação dos seus filhos não devem ter medo de dizer não. Devemos esclarecer que pais não são "coleguinhas" e que, algumas vezes, mesmo correndo o risco de sermos tomados como antipáticos e etc..., temos a responsabilidade de impor alguns limites.

Os pais, então, têm a árdua tarefa de “puxar” e “soltar” o filho, como possivelmente fizeram com a pipa, quando crianças, até que se atinja o objetivo da educação, ou seja, que saiba “gerenciar” a angústia das escolhas e vive-las de forma intensa.

(Francisca Paris, In Almanaque Saraiva, Outubro 2008).

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