A METÁFORA DA PIPA
Quem já empinou pipa sabe que o segredo para o
sucesso da brincadeira está em aproveitar a força e a direção do vento para
fazê-la subir e, depois, quando já empinada, saber tencionar a linha, pois,
quando muito esticada, rompe-se, fazendo com que a pipa se perca pelos ares,
ou, ao contrário, quando muito frouxa, leva a pipa a rodopiar nas alturas e
cair.
Temos o conhecimento de que o jovem
adolescente, objetivando a autonomia adulta, vez por outra não apresenta as
ferramentas que lhe permitam um posicionamento autônomo. Afinal, a adolescência
é um tempo de construção de autonomia, e não uma época de comportamento
autônomo.
Por esse motivo, recorro à representação da
pipa. Ao "dar linha", lançamos nossos adolescentes para as escolhas
que já são capazes de fazer. Não podemos cerceá-los, pois corremos o risco de
formar adultos irresponsáveis.
Todavia, não podemos confundir autonomia com
irresponsabilidade. Os novos jovens precisam ser responsabilizados pelas suas
ações, pois, se ser autônomo é "ser dono do próprio nariz", também
significa saber cuidar dele, ser responsável por ele. O saber cuidar só se
consolida quando ocorre um exercício de responsabilidade pelas escolhas
realizadas e pelas consequências que delas possam advir.
Por outro lado, os pais não podem se esquecer
de que, se tensão demais arrebenta a linha da pipa, tensão de menos faz com que
ela perca a estabilidade e o sentido.
Deixar o adolescente solto, sem limite ou
orientação, é uma omissão do papel educativo que deve ser exercido pelos pais.
Há momentos em que, pressionados pela mídia e pelos pares, os adolescentes
sentem-se oprimidos e incapazes de reações de enfrentamento a determinadas
pressões. É hora de puxar e enrolar a linha para reconduzir a uma postura de
equilíbrio.
Pais e mães comprometidos com a educação dos
seus filhos não devem ter medo de dizer não. Devemos esclarecer que pais não
são "coleguinhas" e que, algumas vezes, mesmo correndo o risco de
sermos tomados como antipáticos e etc..., temos a responsabilidade de impor
alguns limites.
Os pais, então, têm a árdua tarefa de “puxar” e
“soltar” o filho, como possivelmente fizeram com a pipa, quando crianças, até
que se atinja o objetivo da educação, ou seja, que saiba “gerenciar” a angústia
das escolhas e vive-las de forma intensa.
(Francisca
Paris, In Almanaque Saraiva, Outubro 2008).
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